130 anos depois, você já sabe o que fazer pelo futuro?



Pegando carona no último artigo da minha sócia, "Diversidade nós temos, ou melhor nós somos!" e também inspirada pela matéria "Novas faces da negritude" publicada pelo jornal Valor Econômico, em reflexão aos 130 anos de abolição da escravatura, acredito que valha a pena estender um pouco mais o assunto.

 

 

Quando cheguei à entrevista citada pela Wal, já tinha bem claro qual seria o desafio e qual ambiente iria enfrentar, estava muito familiarizada a ele. Ser a única negra nos lugares que frequentava, fora do convívio familiar, era natural pra mim. Vivenciava isso desde os 3 anos quando fui estudar no colégio Instituto São Pio X, um dos melhores de Osasco e por isso frequentado pela sociedade emergente da região, em sua maioria branca, óbvio. Só alguns anos depois é que percebi que o que considerava "natural" era na verdade cruel.

 

 

Por que demorei tanto a perceber?

 

 

Meus pais construíram, sedimentaram e blindaram muito bem a minha autoestima. Eu sabia que era diferente fisicamente, mas também sabia que era igual intelectualmente. Fui vivendo e aproveitando as oportunidades sem a menor cerimônia. A minha ficha da força do preconceito começou a cair somente na adolescência, quando nas festas com os amigos da vida toda eu não era convidada para dançar a seleção de músicas lentas e também não era a escolhida pelos meninos para os namoricos. Neste momento eu entendi que eu fazia parte mais ou menos. Havia limites para a amiga negra.

 

 

Deste momento ao mundo corporativo foi um pulo, com 17 anos, no 1º ano de jornalismo na Cásper Líbero, já estava estagiando em uma multinacional. De lá pra cá observo que no mercado de trabalho as coisas aconteciam mais ou menos como no baile do colégio, mas eu não nasci para ficar sem dançar. Iria dançar mesmo sem música e assim eu fiz. A música tocava na minha cabeça, eu dançava mesmo que fosse sozinha e as pessoas não entendiam como eu fazia aquilo no passo, no ritmo (rs). Sim, descompassos aconteceram e prometo falar desses "desafios corporativos" pelo qual uma mulher negra passa em outros artigos.

 

 

Quero encerrar este dizendo que como nasci em 1974 ainda faço parte do grupo de negros que ascenderam por iniciativas individuais. As ações de hoje são muito mais coletivas e estou muito feliz em dizer que a pequena WR, comandada pela Wal e por mim, compartilha de iniciativas para ampliar a presença de negros em cargos executivos assim como as grandes Bayer, Basf, IBM, Google, Microsoft, Avon e Down.

 

 

Se a sua empresa estiver engajada é possível mudar e tornar o que nós negros chamamos de "teste do pescoço" algo mais responsável. Nós desejamos futuramente olhar ao redor e verificar a presença de mais negros no espaço corporativo. Essa é uma bandeira, um valor da WR praticado no presente para a construção de um futuro mais plural.

 

 

Renata Camargo

 

Sócia-diretora de estratégia e operações na WR


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