Lugar de mulher é no boteco?



Há algumas semanas o time WR realizou a premiação da edição 2018 do concurso Comida di Buteco em São Paulo e entre tantas cenas bacanas uma em especial me marcou: ver Neide Barbosa, proprietária da Casa Galliano, sendo protagonista da sua história ao chegar na premiação empurrando o carrinho da Gabi, sua bebê de apenas 6 meses.

 

 

No boteco, um ambiente historicamente dominado por homens, Neide e outras inúmeras mulheres, que conheci a longo destes 3 anos de envolvimento com a comunicação do concurso, ocupam com competência cargos essenciais para o bom funcionamento e até melhoria dos bares. As mulheres estão, cada vez, mais ocupando lugares de destaque nas cozinhas, administração ou servindo os clientes em bares e restaurantes.

 

 

Entretanto, nada é tão simples assim, Neide me confidenciou que mesmo comandando há sete anos uma equipe com quatro homens, ainda percebe que as pessoas esperam que o responsável pela cozinha seja um homem.

 

 

Infelizmente, uma percepção real

 

O relatório sobre desenvolvimento humano preparado pelas Nações Unidas e divulgado recentemente mostra que, no mundo, as mulheres ganham menos, ocupam menos cargos de chefia e, em 18 países, ainda precisam da aprovação do marido para trabalhar. No Brasil as mulheres recebem até 25% a menos que os homens mesmo desempenhando atividades semelhantes.

 

 

Essa lógica de desigualdade também prevalece no cenário dos botecos, mas por pouco tempo como apontam os números de uma pesquisa realizada pelos organizadores do Comida di Buteco em 2016. Para começar, as mulheres são maioria entre os frequentadores, 58% dos clientes de ‘buteco’ que participaram das avaliações eram mulheres. Dessas, 23% tinham entre 30 e 39 anos e 17%, até 29 anos.

 

 

Respondendo ao nosso questionamento inicial: os números demonstram claramente que o lugar de mulher é, sim, no boteco ou em qualquer outro local que ela quiser estar!

 

 

Como se engajar nessa transformação?

 

 

Susana Ayarza, diretora de Marketing do Google, em seu artigo "Mulheres e o mercado de trabalho: os desafios da igualdade", afirma que as soluções em prol da igualdade de gênero podem surgir de onde menos esperamos. Na prática, algumas ações básicas (e até mesmo óbvias) ajudam a encurtar essa jornada. Em um processo seletivo, por exemplo, é importante ter em mente que esse é um momento fundamental para trazer mais diversidade ao seu time. As empresas em que mulheres ocupam pelo menos 30% dos papéis de liderança são 1.4 vezes mais propensas a ter um crescimento contínuo e lucrativo.

 

 

Assim, que tal incentivar mulheres a candidatarem-se para as suas vagas? Dê chance para que elas possam mostrar o seu trabalho, avalie as candidatas única e exclusivamente pela sua competência profissional. E se você for líder de uma mulher, incentive-a a ir ainda mais longe na carreira, ofereça oportunidades de crescimento e dê o devido crédito quando o trabalho for dela. Estimule diálogos abertos e honestos sobre igualdade de gênero, onde todos tenham espaço para errar, aprender, questionar e pedir ajuda.

 

 

Cabe a todos nós estimularmos a mudança de consciência dentro das empresas. Talvez o mais importante seja percebermos que, todos nós, de alguma forma, ainda somos parte do problema. Ninguém está livre de ter algum tipo de viés, e estarmos atentos a isso já é um passo rumo à transformação.

 

 

Renata Camargo

 

Sócia-diretora de estratégia e operações na WR

 

 


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