BURNOUT - Equilíbrio entre a vida pessoal e profissional: como dizer não e ainda sair vitorioso?



 

Quando leio notícias sobre o aumento de casos de síndrome de burnout, me pergunto se um executivo precisa realmente chegar a esse ponto de esgotamento mental para começar a cuidar de si mesmo. Ele não pode simplesmente dizer “basta!”, impor limites na sua agenda e deixar de tratar as exceções como rotina? Na verdade, ele não só pode como tem plenos poderes nas mãos para dar início a essa mudança.  

Recentemente, a síndrome de burnout foi reconhecida como doença crônica pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e incluída na nova Classificação Internacional de Doenças (CID-11). Sem dúvida, essa foi uma decisão importante, mas ainda são necessárias ações complementares para que certos padrões nocivos, muito comuns no ambiente de trabalho, parem de se repetir. 

Primeiro, os executivos precisam quebrar alguns tabus que eles mesmos criaram, e estão relacionados, principalmente, ao medo de serem substituídos, porque decidiram equilibrar a vida pessoal e profissional. Antes de serem diagnosticados com burnout, eles devem reconhecer que chegaram ao próprio limite. Para isso, é necessário ter autoconhecimento, que começa a se desenvolver a partir do momento em que a pessoa decide pedir ajuda. 

É um processo bastante complexo e que deve ser colocado em prática o quanto antes, para mudar tanto o dial mental da empresa quanto do profissional. Se o executivo for realmente seguro e consciente do seu potencial e da sua capacidade, vai continuar gerando lucro para a companhia, mesmo se precisar se ausentar em determinados momentos. Afinal, são eles que fazem a engrenagem funcionar. 

 

Executivos não são super-homens

Nas empresas para as quais eu presto consultoria, percebo que alguns executivos concordam com a visão de que é preciso organizar melhor a própria agenda e começar a dizer “não” para certas situações. No entanto, a grande maioria ainda está presa a um ciclo de comportamentos pouco saudáveis, que infelizmente acaba culminando na síndrome de burnout.

Quando eu abordo esse tema, não tem como deixar de pensar em exemplos dentro da minha própria casa, que é um laboratório riquíssimo de experiências. Uma das situações que eu pude acompanhar de perto, relacionada à questão de saber impor limites no trabalho, foi com o meu marido. 

No fim de 2021, ele começou a sentir uma dor de dente, mas escolheu protelar a resolução do problema, por conta de reuniões e outros compromissos da empresa. Nunca tinha tempo para ir ao dentista, apesar de eu insistir que ele marcasse logo uma consulta. Inclusive, ele conhecia um ótimo especialista, mas as agendas nunca coincidiam, porque o dentista não atendia fora do horário comercial.     

Quando ele chegou ao limite da dor, encontrou um profissional que podia atendê-lo no sábado e marcou uma consulta, mas nada resolvia o problema. No fim das contas, meu marido acabou sendo encaminhado para um hospital, onde descobriram que ele tinha um abcesso enorme e estava com uma infecção cruzada em estágio bem avançado. O resultado disso foi uma internação de três dias e, claro, afastamento total do trabalho.

Depois da alta, ele percebeu que havia tomado a decisão errada ao adiar a resolução do problema e decidiu se colocar em primeiro lugar: agendou uma consulta com o especialista que não atendia fora do horário comercial e começou um tratamento que demandou algumas horas de ausência do escritório. Ele não perdeu o emprego e a empresa não faliu por causa disso.     

 No fim das contas, o executivo só sai vitorioso quando deixa de lado a capa de super-homem e consegue dizer “não”, sempre que for necessário. A boa notícia é que essa mudança é possível. Basta que ele acredite e deixe de lado algumas crenças limitantes. Falar é sempre mais fácil do que fazer, mas é preciso dar o passo inicial e se colocar em primeiro lugar.

 

É preciso romper padrões

Os executivos que acreditam que não é possível impor limites na agenda de trabalho agem dessa forma por conta de um padrão cultural, que precisa ser rompido. Afinal, ninguém vai deixar de ser um bom executivo se estiver sempre buscando um espaço na agenda para encaixar algum outro compromisso que seja importante para sua vida pessoal. Mas por ser uma questão cultural, trata-se de um processo intrínseco ao autoconhecimento.

Por outro lado, algumas empresas acham que oferecer apenas programas de saúde mental é o suficiente, quando na verdade o que elas devem fazer fica em segundo plano. Isso quer dizer garantir aos executivos o direito a uma pausa do trabalho, quando eles acharem que estão perto do próprio limite ou já ultrapassaram a fronteira do aceitável.  

Eles precisam romper esses padrões, porque é muito coisa para lidar ao mesmo tempo. 

Na era industrial, por exemplo, exigiam comando, poder e controle dos gestores. Hoje, essas características continuam sendo demandadas, mas muitas outras habilidades passaram a ser requisitadas desses profissionais, que acabam se cobrando ao extremo para desempenhá-las com excelência. 

 

O caminho para a mudança

É preciso tornar a jornada corporativa mais leve, tanto que hoje em dia existe uma grande pressão familiar e da sociedade para que os executivos busquem autoconhecimento e se permitam. Uma pessoa que alcança o equilíbrio vai para o trabalho mais saudável, em todos os sentidos – mental, físico, emocional, espiritual e energético. E isso é tudo o que as empresas querem, porque um profissional saudável cria mais e melhor. 

No fim das contas, a chave para a mudança está nas mãos dos executivos. A partir do momento em que eles perceberem que são a força da empresa, o jogo vai começar a reverter e as companhias mudarão de atitude. Está mais do que na hora de os líderes liberarem espaço em suas agendas para o que realmente importa. 

Na maioria das vezes, o ser humano age pela dor, e não pelo amor. Para os executivos, a dor é o momento em que eles deixam de ser úteis para a empresa. O direito à licença médica remunerada por conta da síndrome de burnout não deve ser considerado um prêmio. Não deve haver moeda de troca quando falamos de saúde física e mental. Se você quiser ter uma vida mais equilibrada e saudável, tente não ir pela dor. Uma decisão errada pode custar a sua vida, literalmente. 

 

 

 

Wal Ruiz

 

Especialista em comunicação organizacional


Publicações