Ter coragem de ficar vulnerável gera confiança, proximidade e engajamento



Durante a coletiva do pós-jogo Brasil e Costa Rica, Tite foi questionado sobre o choro de Neymar e respondeu: "Eu não conversei com o Neymar.

 

Vou para a minha parte até baixar a adrenalina, só tive contato com Coutinho. Nem vi esse lance, não tenho como fazer a avaliação. Mas uma coisa eu posso te falar: a alegria, a satisfação e o orgulho de representar a Seleção é muito grande. Ele tem a responsabilidade, a alegria, a pressão e a coragem pra externar esse sentimento. Eu, por exemplo, sou um cara emotivo, mas cada um tem a sua característica.

 

 

Eu respeito as características de cada um." Ouvindo a mensagem, minha mente, imediatamente, juntou as palavras do líder Titi às ditas pelo Rogério Cher, CEO da Empreender Vida e Carreira durante a palestra - Como construir uma cultura de engajamento na sua organização - que assisti no 4º Fórum Gestão da Diversidade e Inclusão. Segundo Cher, dentro das empresas a trilogia Cultura / Liderança e Engajamento são inseparáveis e quando elas funcionam bem criam no time o efeito colateral chamado de alta performance, ou seja, um time comprometido em dar o melhor na busca dos números, dos resultados. Na liderança do Tite, enxergo claramente um trabalho de resgate da cultura de engajamento da Seleção Brasileira, que sabemos que existiu, foi bastante admirada, mas em algum momento se perdeu com lideranças pouco humanas, pouco efetivas e com valores distintos da cultura a ser resgatada. Nem preciso lembrar que construção de cultura é um movimento “top down” onde o líder é o responsável por isso, certo? Durante essa construção o líder precisa ser exemplo prático. Liderança que fala uma coisa e faz outra não engaja ninguém e não constrói nada efetivo.

Quando Tite, na resposta acima, deu a entender que faria o mesmo que Neymar porque também é emotivo, e, além disso, respeita as características de cada um, ele traz valores significativos e constrói propósito para todo o seu time. Ter coragem de ficar vulnerável gera confiança, traz proximidade e engaja. Os líderes Tite e Neymar sabem disso e são corajosos o suficiente para exporem sentimentos que podem passar a imagem de vulnerabilidade. Voltem na cena do jogo e vejam que o choro “despressurizador” ajoelhado do Neymar logo recebe o apoio de todo o elenco. O time brasileiro está em crescimento e pessoas em desenvolvimento são engajadas, cabendo ao líder desafiá-las o tempo todo, não permitindo que fiquem na zona de conforto.

É necessário estimulá-las a falar sobre os seus valores e abrir possibilidades para que elas escolham os seus desafios. Tite, assim como bons líderes corporativos, faz isso o tempo todo. Ouve, desafia e respeita. Pra mim foi muito fácil entender e acima de tudo respeitar o choro do Neymar. Quem chega ao limite da competência tem frio na barriga e calor no cangote, que nada mais são do que sintomas reais causados pela pressão. Entretanto, quando o desafio é superado o crescimento dá mais um passo e sentimentos emergem. E foi isso que vimos no jogo.

A missão da empresa Seleção Brasileira, de ser 6 vezes campeã do mundo, está só no começo, momento adequado para um bom líder estimular no time talentos e competências e não ficar preso apenas aos pontos fracos, como tem feito a torcida.

 

Renata Camargo Sócia-diretora de estratégia e operação na WR


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